O Palco da Mente: Você é o Ator, o Personagem ou o Roteiro Secreto?

O Palco da Mente: Você é o Ator, o Personagem ou o Roteiro Secreto?

14 de julho de 2025 Off Por Fernando Maia

Você já teve a sensação de estar vivendo no piloto automático? Aquele sentimento de que os dias se repetem, que você está apenas cumprindo um roteiro, reagindo às circunstâncias em vez de criá-las? Muitos de nós sentimos um cansaço profundo, uma insatisfação que não sabemos nomear, como se a vida que vivemos não fosse verdadeiramente nossa.

Esse sentimento surge quando o papel que desempenhamos socialmente se torna mais real do que nossa verdadeira essência. É como se tivéssemos vestido uma máscara há tanto tempo que esquecemos do rosto que ela esconde. Nós nos fundimos tanto com nosso personagem — o do profissional competente, da vítima das circunstâncias, do invisível — que esquecemos que isso é apenas uma performance.

Hoje, vamos abrir as cortinas do seu teatro interior para revelar as três camadas que compõem sua experiência de vida: o Personagem que você apresenta ao mundo, o Roteiro oculto que dita suas cenas e o Ator silencioso que observa tudo, esperando que você se lembre de quem realmente é.

1. O Personagem no Palco (A Mente Consciente)

Pense no seu “eu” do dia a dia. Aquele que tem um nome, um CPF, uma profissão e uma história de vida. Aquele que diz “eu sou engenheiro”, “eu sou tímida”, “eu sou forte” ou “eu não tenho sorte no amor”. Este é o seu Personagem, a máscara social que o psicanalista Carl Jung chamou de Ego.

Este Personagem é funcional e necessário. Ele escolhe a roupa do dia, planeja a agenda e interage com o mundo. O problema não é a sua existência, mas a nossa identificação total com ele. Vivemos tão imersos nesse papel que esquecemos de perguntar: “Quem eu era antes de me dizerem quem eu deveria ser?”

Na neurociência, estima-se que a mente consciente processe cerca de 40 bits de informação por segundo. É uma capacidade limitada, focada no aqui e agora. O Personagem vive na superfície, reagindo aos acontecimentos, sem saber que as cenas que ele vive são ditadas por um roteiro que ele não escreveu.

Como disse o lendário sábio Hermes Trismegisto no Corpus Hermeticum: “Você não é o nome, nem o corpo, nem a condição. Você é o espírito eterno, oculto atrás da forma.” Você não é o personagem.

2. O Roteirista nos Bastidores (A Mente Subconsciente)

Imagine que nosso Personagem decide mudar de vida. Ele se cansa das mesmas tramas, dos relacionamentos que terminam da mesma forma, das frustrações financeiras que se repetem. Ele afirma com toda a força: “A partir de hoje, tudo será diferente!”. Mas, inevitavelmente, as velhas cenas voltam a se desenrolar, talvez com novos atores, mas com o mesmo final desanimador.

Por que isso acontece? Porque o Personagem não tem acesso ao roteiro.

Quem comanda o espetáculo é o subconsciente, o roteirista fantasma que trabalha nos bastidores. Ele processa mais de 11 milhões de bits por segundo e governa cerca de 95% da nossa vida: nossas emoções, hábitos, reações automáticas e crenças mais profundas.

O subconsciente não raciocina; ele executa. É um repositório leal de tudo o que foi gravado com impacto emocional ao longo da sua vida, especialmente na infância. Medos, traumas, verdades absorvidas da família, da escola e da sociedade formam o enredo que você repete sem perceber.

Jung chamou essa camada de inconsciente pessoal. Mais fundo ainda, ele identificou o inconsciente coletivo, uma biblioteca simbólica compartilhada por toda a humanidade. É aqui que residem os arquétipos: moldes universais de personagens como o Herói, a Vítima, o Salvador, o Sábio e o Vilão.

A publicidade, a política e a mídia ativam esses arquétipos para influenciar nosso comportamento. Se o nosso observador interno está adormecido, nós encarnamos esses papéis automaticamente. Muitos vivem aprisionados no arquétipo da Vítima, vibrando em uma frequência de “nada dá certo para mim”, “a vida é injusta”, e atraindo mais cenas que confirmem esse roteiro trágico.

3. O Ator Silencioso (A Centelha Divina ou o Self)

Apesar do poder do roteiro subconsciente, existe uma parte sua que não se confunde com o drama. Uma parte que sabe que tudo isso é temporário, uma peça teatral. Ela é o Ator por trás da máscara, a sua consciência pura, a Centelha Divina.

Na psicologia junguiana, essa parte é o Self, o centro ordenador de toda a psique. O Self não é um papel; é a origem. Ele observa o Personagem (ego) e o Roteiro (inconsciente) sem se identificar com eles.

A Centelha não reage, ela presencia. Ela não sofre, pois sabe que os papéis são passageiros. Ela é a única parte de você que pode, de fato, reescrever a história. Por quê? Porque ela está em contato direto com o “Diretor” do espetáculo — a Mente Universal, o Todo, como descrito no Caibalion, um dos pilares do hermetismo.

Enquanto você acredita ser o Personagem, você está preso no palco. Quando você se lembra de que é o Ator, você ganha a perspectiva necessária para mudar a cena.

Como Assumir o Comando e Reescrever o Roteiro

Sentir-se exausto, vivendo uma vida que parece não ter sido escolhida por você, é o chamado do seu verdadeiro Eu. É o Ator batendo nas paredes do camarim, pedindo para assumir o controle. Para fazer isso, é preciso ir além do pensamento positivo e trabalhar diretamente com o roteirista.

  1. Observação Consciente: O primeiro passo é observar seus pensamentos e emoções sem julgamento. Em vez de ser arrastado por eles, pergunte-se: “Quem está pensando isso? De onde vem essa emoção?”. Onde há observação, a Centelha desperta e o piloto automático se desliga.
  2. Transmutação Mental Hermética: A lei hermética da Polaridade afirma que tudo tem seu oposto. Em vez de lutar contra uma crença negativa, você pode transmutá-la. A crença “Dinheiro é difícil de ganhar” pode ser conscientemente transformada em “Estou aberto e receptivo a novas formas de prosperidade”. Não se trata de pensamento mágico, mas de uma reprogramação intencional da sua vibração.
  3. Sentir para Reprogramar: O subconsciente aprende por repetição e impacto emocional. É por isso que repetir “eu sou amado” não funciona se você se sente rejeitado. Práticas como a meditação, que silencia o ruído do ego, e mantras repetidos com emoção genuína, ajudam a gravar um novo sentimento no seu roteiro interno.
  4. Proteja Sua Mente: O Caibalion ensina que “O Todo é Mente; o Universo é Mental”. Sua mente é o jardim onde sua realidade floresce. Filtre o que você consome — conversas, notícias, redes sociais. Você não pode plantar sementes de medo e escassez e esperar colher uma vida de abundância e paz.

A única coisa que separa você da vida que sua alma deseja viver é o silêncio que você ainda não se permitiu ouvir. Ao silenciar o barulho do Personagem, você começa a escutar a voz do Ator.

Quando a Centelha desperta, a máscara se dissolve, o roteiro se desfaz e a realidade se transforma. Você deixa de ser um efeito e se torna a causa. A sabedoria está esperando, mas, como diz o ditado hermético, “os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento”.

Então, pergunte a si mesmo: você está pronto para parar de atuar e começar a dirigir? Se sim, afirme para si mesmo com convicção: “Eu não sou o personagem, eu sou o ator.” Sinta o poder que emerge quando você se lembra de quem verdadeiramente é.